domingo, 14 de janeiro de 2018

Palavra de Poesia




Num estudo dedicado à imaginação, precisamente intitulado “A Imaginação como valor”, diz Wallace Stevens que a faculdade de imaginar, considerada como metafísica, é em si mesma a única via de acesso para a realidade.  Na linguagem, sistema codificado de signos, encontramos o labor da imaginação, isto é, o desmembramento, ou a dissolução do signo, arbitrário por definição e, por isso mesmo, irredutível à sua existência abstrata, meramente conceptual, pois que uma palavra, para além de ser na essência um som articulado e terreno de germinação de imagens e de sentidos, pode ser também facto concreto, organismo vivo, coisa em si, porque se realiza textualmente, figuralmente.

Na lógica poética, que é uma não-lógica, segundo Lupasco, o signo extrema-se e estremece, ganhando proporções novas e enfrentando um não-limite, um não-lugar que ele próprio cria e ocupa quando extravasa da historicidade para o incomunicável. A poesia nasce para o impasse e afirma-se na contradição mesma que a define. A essa historicidade, que é já um outro plano do saber, pertence o signo poético, a palavra de poesia que faz da elipse a razão da sua aporia e, nesse sentido, a aventura do poema é sempre um convite a ultrapassar a fronteira inexpugnável da dúvida, aquilo mesmo que faz da poesia ser poesia.



CORTEZ, António Carlos. Palavra de Poesia, José Tolentino Mendonça, A pedra que flutua, JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, Paço de Arcos, 20.12.2017.




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Biografia : Sou reformado do Comércio & Serviços e dedico os tempos livres que, logicamente, são todos os momentos do dia e da noite,...