Num estudo dedicado à imaginação,
precisamente intitulado “A Imaginação como valor”, diz Wallace Stevens que a faculdade
de imaginar, considerada como metafísica, é em si mesma a única via de acesso
para a realidade. Na linguagem, sistema
codificado de signos, encontramos o labor da imaginação, isto é, o
desmembramento, ou a dissolução do signo, arbitrário por definição e, por isso
mesmo, irredutível à sua existência abstrata, meramente conceptual, pois que
uma palavra, para além de ser na essência um som articulado e terreno de
germinação de imagens e de sentidos, pode ser também facto concreto, organismo
vivo, coisa em si, porque se realiza textualmente, figuralmente.
Na lógica poética, que é uma não-lógica,
segundo Lupasco, o signo extrema-se e estremece, ganhando proporções novas e
enfrentando um não-limite, um não-lugar que ele próprio cria e ocupa quando
extravasa da historicidade para o incomunicável. A poesia nasce para o impasse
e afirma-se na contradição mesma que a define. A essa historicidade, que é já
um outro plano do saber, pertence o signo poético, a palavra de poesia que faz
da elipse a razão da sua aporia e, nesse sentido, a aventura do poema é sempre
um convite a ultrapassar a fronteira inexpugnável da dúvida, aquilo mesmo que
faz da poesia ser poesia.
CORTEZ, António Carlos. Palavra de Poesia, José Tolentino Mendonça,
A pedra que flutua, JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, Paço de Arcos,
20.12.2017.
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